sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A marcante presença da Poesia no Vestibular 2010

Os candidatos da 1ª etapa do Vestibular 2010 da Universidade Federal de Campina Grande enfrentaram, no último dia 09 de novembro, mais de uma dezena de questões: entre objetivas e as chamadas abertas e discursivas (é aqui que a cobra fuma!) somente nas provas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.

Devemos ressaltar que a UFCG neste ano caprichou nas provas ao incluir em mais de 60% das questões objetivas e numa das duas questões abertas, a análise de obras de grandes nomes da nossa velha e salutar Poesia Brasileira...

O problema maior, segundo comentam alguns jovens alunos, estava no nível da análise solicitada e na dificuldade de compreensão textual das POESIAS apresentadas...
Ler poesia, na verdade, deve ter dado uns nós e causado dores de cabeça em alguns jovens e adultos acostumados a só ouvirem e repetirem a `pornô-music` que vem de programas de alguns trapalhões e suas loiras, dos inesquecíveis programas de auditório dos domingões, suas calcinhas e seus jurados, das rádios, churrascarias, bares, enfim, escapam poucos ambientes como igrejas e afins que não aderiram... Até agora. Mas...

Já temos um bom numero de ‘escolas’ no “trenzinho”. Em nossa região tem até comemoração de dia dos professores, digo, dia dos Mestres “descendo com a mão” e, infelizmente, sabe Deus o que mais se houve nestes equipamentos sonoros que, não faz muito tempo, tocava “coração de estudante”... Assim não tem Paulo Freire que resista! “seus danadinhos!”, como dizem as novas ‘composições’. Se continuarmos nesse ritmo (se é que se pode chamar assim), poesia no vestibular será sempre um porre para a nossa juventude.

Clamo agora aos poetas: sempre que pudermos, lembremos a essa inexperiente moçada jovem (maior cobaia dessas sonoridades modernas e desmioladas) pra ter cuidado com essas manias... de “créus”, “lacraias”, “frentinhas”, “corra-corra”, “tome-tome-tome”, “desce com a mão”, etc. Nenhuma Universidade, que se preze, fechará os olhos para estudantes que não tenham condição, sequer, de ler e que pretendam entrar pelas brechas dos vestibulares...para sentarem-se em suas cadeiras.

Nem toda hora, a gente pode contar com as respostas do Google!
Ainda é preciso pensar pra existir.

Nossas saudações, sempre na base da poesia!

Seguem as obras de Cruz e Sousa e de Mario Quintana dadas como subsídio para responder às questões do vestibular 2010.

LITANIA DOS POBRES
(Cruz e Sousa)

Os miseráveis, os rotos
são as flores dos esgotos.

São espectros implacáveis
os rotos, os miseráveis.

São prantos negros de furnas
caladas, mudas, soturnas.

São os grandes visionários
dos abismos tumultuários.

As sombras das sombras mortas,
cegos, a tatear nas portas.

Procurando o céu, aflitos
e varando o céu de gritos.

Faróis à noite apagados
por ventos desesperados.

Inúteis, cansados braços
pedindo amor aos Espaços.

Mãos inquietas, estendidas
ao vão deserto das vidas.

Figuras que o Santo Ofício
condena a feroz suplício.

Arcas soltas ao nevoento
dilúvio do Esquecimento.

Perdidas na correnteza
das culpas da Natureza.
(...)


CRIANÇAS NEGRAS
(Cruz e Sousa)

As pequeninas, tristes criaturas
ei-las, caminham por desertos vagos,
sob o aguilhão de todas as torturas,
na sede atroz de todos os afagos.

Vai, coração! Na imensa cordilheira
da Dor, florindo como um loiro fruto,
partindo toda a horrível gargalheira
da chorosa falange cor do luto.

As crianças negras, vermes da matéria,
colhidas do suplício à estranha rede,
arranca-as do presídio da miséria
e com teu sangue mata-lhes a sede!

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
(Mario Quintana)

"A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª- feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade

Eu nem olhava o relógio
Seguia sempre, sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada
e inútil das horas"

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